Carta Branca para a mãe que perdeu um filho
Podes escolher o silêncio, escolher ficar calada e não querer conversar com ninguém sem te sentires culpada.
Podes chorar no duche, na cama, no carro, na rua sem te sentires uma pessoa ingrata.
Podes não querer sair da cama, esconder-te debaixo da almofada sem te sentires uma pessoa fraca.
Podes gritar à beira mar sem te sentires uma pessoa desequilibrada.
Podes chorar à frente dos teus outros filhos sem te sentires envergonhada.
Podes dizer que a vida é uma m#rda sem te sentires uma pessoa injusta.
Podes não querer viver um dia de cada vez e desejar que tudo passe depressa sem te sentires julgada.
Podes não dar ouvidos ao que os outros dizem e ouvir o teu coração sem te sentires uma pessoa egoísta.
Podes pedir ajuda sem te sentires incapaz.
Podes sorrir sem sentir que estás a trair o teu filho.
Podes isto e muito mais, porque a perda é tua e recuperar a força tem mais a ver contigo do que com os outros. Abraço-te com compaixão.
Já chega de achar que lidar com a perda de um filho é "mais um desafio da vida". Não é mais um. É aquilo que nenhuma mãe, nenhum pai devia viver. É aquilo que nem nos piores pesadelos podes sequer ver.
Se não sabes o que dizer a uma mãe que perdeu um filho (até porque não há muito a dizer), simplesmente ouve, olha, abraça. Dá espaço. Limita-te a estar aí, sem mais. Não pretendas “resolver” a dor, oferecer ajuda que não te foi pedida. Sei que a tua intenção é a melhor, e sei também que quando se perde um filho, é mesmo difícil compreender a incompreensão dos outros.
Abraço-te com compaixão,
Ana Higuera