Conversa real
Tenho muitas conversas gravadas no coração.
Esta é uma delas.
Falar com os meus filhos sobre morte é tão natural como falar sobre a escola, sobre medo, sobre o que vamos escolher para o jantar ou sobre o que me faz sentir envergonhada ou triste.
No outro dia estive a falar com o meu filho sobre trauma. E a diferença com traumatização.
Ao longo da conversa, ele foi partilhando algumas metáforas comigo que o estavam a ajudar a entender melhor os conceitos.
Falou sobre a situação de Gaza e Israel, lembrou-se de metáforas relacionadas com autoestradas e árvores.
Eu fico admirada e ao mesmo tempo comovida, agradecida pois nunca com 10 anos de idade tive conversas assim com os meus pais.
As conversas eram muito unidirecionais e sei que os meus pais guardavam muitas das duas histórias de medo e vergonha para me proteger ou não me magoar.
Um dia o meu filho (com 5 anos) disse-me que sabia qual era o meu maior medo.
Estávamos num café, num shopping. Lembro-me perfeitamente. Eu estava a olhar para umas escadas rolantes.
Ele afirmou que o meu maior medo era perder um filho.
Eu fiquei em silêncio.
Abracei-o.
E com palavras entrecortadas pela emoção, eu disse algo como: "conheces-me bem filho", em espanhol "me conoces bien hijo".
Se hoje alguém me perguntasse por um conselho para ter melhores relações com os filhos, eu diria: "conversem com o coração, sobre tudo".
Nada mais importante do que sentirmo-nos vistos pelo outro, pertencer e sermos testemunhados nas nossas histórias de amor, de perda, de dor, de celebração.
Deixa-me saber se leste e se isto te faz sentido.
Abraço sereno,
Ana Higuera