O que é luto?
Longo: Não é um caminho que se escolhe ou, não após a morte, inevitavelmente entras nele. Nesse caminho cabe tudo: a dor, a paz, a alegria, a culpa, a vergonha, o medo, o avançar, o parar, o retroceder, o fugir, o confrontar. Não tem início nem fim. É o caminho que se segue e que fará sempre parte de quem sofre uma perda. Entender isto é fundamental para legitimar o que se sente, pensa e faz no luto.
Único: Pertence à pessoa que está a lidar com a perda. Tendemos, com a melhor das intenções, a dar sugestões, fazer comentários e frases que podem fazer sentir inadequada a pessoa que está em luto. É uma experiência pessoal de vida (paradoxo). Entender isto é fundamental para reclamar o poder pessoal sobre o luto.
Transformador: Mexe com todas as dimensões da vida, começando claramente pela física. A perda de memória, insónias, ataques de pânico, esgotamento, alteração no peso e apetite são legítimos. Está cientificamente provado que as células de uma pessoa em luto perdem eficiência. Imagina então as transformações que não ocorrem a outros níveis? Entender isto é fundamental para olhar com compaixão e empatia quem está em luto.
Orgânico: É uma experiência natural, essencial e espontânea após a morte de alguém que amamos. Assim como sabemos que a morte é permanente, irreversível e universal, o luto também. O estigma da morte tem levado a que o luto não seja ainda uma linguagem universal de amor após a morte. Eu própria fugia desta palavra que me resultava tão incompreensível. Entender isto é fundamental para abrir espaço a conversas honestas sobre vida e perda.
Perdi um filho em 2016, morreu com 54 dias de vida. Comecei a viver o caminho do luto sem fazer a mínima ideia do que isso significava. Ter sabido algumas destas coisas elementais teria ajudado sobretudo a praticar Autocompaixão e Autoempatia. E também, a comunicar os meus limites pessoais.
Partilhei contigo esta reflexão que acho fundamental para:
Legitimar o que se sente, pensa e faz no luto;
Reclamar o poder pessoal sobre o luto;
Olhar com compaixão e empatia quem está em luto;
Abrir espaço a conversas honestas sobre vida e perda.
É tão importante espalhar esta mensagem. Assim estamos todos a contribuir para uma melhor Literacia da Perda.
Abraço sereno,
Ana Higuera