2 Mitos sobre a Coragem
Antes de começar, quero partilhar 3 ideias que clarificam o significado que a CORAGEM tem para mim:
A Coragem é uma escolha que nos leva a abraçar a vida com a suficiente vulnerabilidade para nos deixar ver;
A Coragem torna-se acessível quando abrimos espaço para acolher o medo;
A Coragem dá-nos permissão (abre a porta) para avançar e também, para parar.
Os 2 mitos que hoje quero partilhar contigo:
1 "As pessoas corajosas não desistem"
A ideia de que as pessoas corajosas não desistem alimenta claramente a crença de que a coragem não é connosco. Pergunto-me se existem mesmo pessoas que nunca desistiram e se só por isso não são corajosas? E se foram corajosas pelo facto de terem escolhido desistir? O que significa então desistir?
Se a vida se trata de equilíbrio, não é possível pensar que seja possível "nunca desistir". Pensa numa balança: para que tenha equilíbrio é preciso o peso e o contrapeso. Perseverar e desistir. Avançar e parar. Fugir desta evidência é reduzir o espaço para legitimar os passos que damos e que deixamos de dar. As pessoas que conseguem aceder à coragem sabem que é possível desistir. Sob esta visão, desistir é também de pessoas corajosas. É por isto que costumo dizer que a coragem dá-nos permissão para avançar e também, para parar. E é uma escolha diária.
Para desconstruir este mito, torna-se importante questionar o significado que tem para nós o verbo desistir. Por norma, quando decidimos desistir de algo, estamos a dar permissão para continuar com outra coisa. Na minha história de perda e de amor, houve permissão para desistir. E trouxe muita paz. Se não conheces a história ao detalhe, podes saber mais no nosso livro.
2 "A coragem é exclusiva a momentos de grande revolução na vida de uma pessoa, é de pessoas fortes e resilientes"
A crença de que a coragem só pertence a quem passa por experiências de revolução (como morte de um ente querido, doença grave, entre outros) pode criar desconexão com este recurso interno poderoso. Podes pensar: "Eu nunca vivi uma experiência assim tão difícil", "Eu realmente nunca fiz nada corajoso nem ultrapassei nada assim tão complexo". Ou então, podes até estar a passar por um momento doloroso e não te reconhecer como uma pessoa corajosa: "Não sou corajosa, estou aqui sumida num poço escuro e frágil. Corajoso é quem é forte e tem garra para se levantar".
Só que a coragem não floresce apenas quando há revolução. A coragem está na evolução e não só na revolução. A coragem não tem a ver com força e sim com o reconhecimento dos nossos medos, fragilidades, necessidades por satisfazer, pedidos de ajuda por fazer, limites por comunicar. Reconhecimento no quotidiano do que nos faz fluir com a vida da forma que queremos.
Exemplo de coisas aparentemente não corajosas e que podem ser mesmo manifestações de coragem:
Corajoso pode ser tomar um banho após dois dias de ter estado na cama sem vontade de fazer nada;
Corajoso pode ser telefonar a essa amiga que deixou de te falar há meses e perguntar como se sente;
Corajoso pode ser dar um beijo ao teu filho no meio de uma grande birra e dizer que o amas sem condição;
Corajoso pode ser vestir essa blusa que te apetece e não usas por medo do julgamento;
Corajoso pode ser fazer esse pedido de ajuda que andas a adiar;
Corajoso pode ser encomendar hambúrguer no McDonalds para o jantar;
Corajoso pode ser levantar-te quando o alarme toca após uma noite mal dormida;
Corajoso pode ser desistir de investir numa relação que fere a tua integridade;
Corajoso pode ser publicar esse post que tens guardado há dias no teu coração;
Corajoso pode ser não te reconheceres como uma pessoa feliz.
Coragem pode ser isto, no pequeno e no grande, no fluir da vida.
Abraço corajoso
Ana Higuera