O meu coaching mudou
Estarmos com as histórias do outro, mesmo que aparentemente “simples”, é estarmos a ocupar um espaço potencial de transformação (ou então de retraumatização).
O coaching, como sabes, é um processo único e transversal a várias atividades, não exclusivo da Psicologia.
E a maneira como cada um de nós cuida do processo é que difere de pessoa para pessoa.
Aliás, é assim com as restantes profissões, não é?
A forma como cuido e pratico coaching tem mudado imenso, e essa mudança tem sido gradual e absolutamente notória.
O que se tem traduzido em melhores resultados para os meus clientes, mais realização profissional e senso de propósito para mim.
Em 2021, quando desenhei o primeiro programa grupal que existia em Portugal, para acolher o luto (Programa reNascer), senti a necessidade de convidar outros profissionais a integrar a equipa de mentores/orientadores.
Entre eles, uma psicóloga. Sabia que poderiam surgir temas que escapavam à minha área de competência e queria garantir que os participantes estavam suficientemente seguros e cuidados para abrir espaço para as suas dores e perdas.
O programa teve 3 edições maravilhosas e com as quais aprendi muito. E após a terceira edição em março de 2022, decidi fazer uma pausa para olhar para dentro.
Senti-me altamente movida nas sessões, ativada nas minhas dores e com poucos recursos para poder acompanhar realmente toda aquela experiência intensa de muitas das participantes.
Foi um gesto humilde e autocompassivo que me levou a tomar consciência de que precisava, não só cuidar ainda mais do meu luto, como ganhar mais compreensão e clareza sobre o trauma.
Desde que comecei a estudar Experiência Somática, a participar em workshops relacionados com o tema, a ler mais, a receber terapia somática, a introduzir essa sabedoria na minha prática como coach e a ter relações mais próximas com profissionais da psicologia (muitos psicólogos estudam SE - Somatic Experiencing) notei várias mudanças nos meus processos de coaching.
Vou contar-te 2 delas:
Um processo mais gentil e respeitador do outro:
O mundo do coaching impulsiona-nos para colocar o foco nos resultados como sendo o derradeiro foco do processo. O que pode levar-nos a colocar perguntas pouco ecológicas, a forçar tomadas de decisão ou definição de objetivos para os quais o cliente ainda não está preparado (o que resulta em processos que não avançam).
Compreender as respostas fixadas do trauma, o peso das memórias e significados tem-me ajudado a conduzir os processos com mais gentileza e respeito pela história do outro, sobretudo, para que a dignidade das experiências seja resgatada. E desde esse lugar mais digno é mais fácil haver transformação.Um processo mais seguro, compassivo e menos invasivo:
O mundo do coaching corre o risco de levar-nos para processos muito mentais onde há pouco espaço para sentir. E sabemos que toda e qualquer memória semântica (significado) entra no sistema através dos sentidos (corpo).
Daí que, por exemplo, trabalhar com crenças limitantes seja algo de extremo cuidado porque não é bem como se diz “anda cá eu ajudo-te a eliminar as tuas crenças ou a reprogramá-las”. Não. Precisamos focar na compaixão primeiro, em restabelecer uma neurobiologia de segurança para depois trazer novas respostas e significados.
Esta sabedoria tem tornado os meus acompanhamentos verdadeiros espaços de segurança que promovem tomadas de consciência novas, mudanças significativas (embora possam parecer pequenas) e um campo novo de possibilidades e de esperança.
O meu coaching está cada vez mais banhado pela Empatia e pela Ressonância com o outro, e acredita, isso FAZ TODA A DIFERENÇA.
Abraço sereno,
Ana Higuera