Por vezes, é só silêncio o que mais preciso.

Reparo quando até a música me incomoda.
Reparo quando ouço as gargalhadas dos meus filhos e me sinto dividida entre a gratidão por saber-me perto deles e o desconforto do "barulho".
Reparo quando o ladrar do cão
me deixa nervosa.
Reparo quando alguém quer falar
comigo e eu não respondo.



É um paradoxo porque o silêncio que procuro lá fora vem de um lugar de muito barulho cá dentro.

Barulho das emoções anestesiadas para poder continuar a funcionar e ser responsiva ao quotidiano da vida.

Barulho das necessidades suprimidas em benefício da satisfação das necessidades dos outros.

Barulho das dores emocionais que me falam através das enxaquecas do pescoço dorido, das costas tensas e pesadas.

Barulho das vozes internas que duvidam, que desconfiam, que julgam, que me comparam.

Preciso de silêncio.

Por vezes, só isso.
Silêncio do mar.
Do vento.
Da escrita.
De um olhar atento.
De uma carícia.
De um beijo.

Com compaixão abraço hoje todas as partes de mim que querem silêncio.

Mesmo quando isso implica recolhimento. Resguardar-me dos outros. Não brincar com os miúdos. Não partilhar o que sinto.

Silêncio.
Apaziguas.
Ajudas.
Escutas.


 
 
 

Abraço sereno,

Ana Higuera

 

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