A serenidade não é para mim

Sinto-me com a legitimidade para falar sobre serenidade, um valor que decidi, escolhi, assumi e permiti que ocupasse um lugar de destaque na minha vida e que tem feito toda a diferença. É recorrente ouvir mulheres que me acompanham, amigos(as), pessoas próximas e não só, referirem a sensação de serenidade e leveza que sentem quando entram em contato comigo. Há alguns anos não era muito consciente e nem acreditava que isso fosse possível. Hoje percebo e acolho com gratidão esse reconhecimento.

No entanto, há alguns comentários que recebo, dúvidas e incertezas de algumas mulheres, a referir que a serenidade não é para elas (ou que lutam para a conseguir sem sucesso). Parece que a serenidade é só para um tipo de pessoas, o que me levou a questionar, investigar e aprofundar este assunto neste último ano.


Os 3 mitos da serenidade

Identifiquei alguns mitos que existem à volta da serenidade e quero hoje partilhar 3 deles contigo. A minha intenção é que sejam um ponto de partida para refletires se existe em ti alguma destas crenças, de forma a que possas dar um passo em frente na tua jornada para uma vida mais serena.

Antes de começar, deixa-me partilhar contigo a minha definição básica de serenidade:

Entendo por serenidade a nossa capacidade para acolher, criar e abraçar pausas entre estímulo e resposta.

Os 3 mitos da serenidade que hoje quero partilhar contigo:

  1. "As pessoas serenas estão sempre a sorrir, bem dispostas, levam tudo na boa";

    A ideia de que as pessoas serenas sejam de sorriso fácil, bem humoradas e bem dispostas está bastante enraizada. O facto de acharmos que é possível viver sempre assim pode trazer sofrimento e afastar claramente a ideia de que a serenidade é para nós. A vida só pode ser inteiramente vivida dentro do equilíbrio e estarmos sempre a sorrir e bem dispostos não é equilíbrio. Pensa numa balança, para que tenha equilíbrio é preciso a luz e a sombra. O sorriso e o choro. A alegria e a tristeza. Fugir desta evidência é oposto da serenidade.

    As pessoas que conseguem viver em serenidade, abrem espaço para acolher as suas emoções, sentir e experienciar a vida nas contrariedades e nos imprevistos. Só é possível estar em paz com o que está a acontecer se nos permitirmos, com curiosidade, sentir, conhecer e aprofundar essa realidade.

  2. "As pessoas serenas investem muito tempo em meditação, yoga e práticas de mindfulness";

    A ideia de que a serenidade só pode existir se houver uma elevada carga de momentos meditativos e contemplativos na vida pode também desmotivar e criar frustração. Há pessoas que não conseguem mesmo entrar constantemente em modo contemplativo: sentadas, em silêncio, a respirarem enquanto meditam. Sem dúvida que, para criar espaço entre estímulo e resposta, ajuda imenso desenvolver e treinar a capacidade de estar no Presente, caso contrário, temos tendência para ir ao passado (estímulo) ou saltar logo para o futuro (resposta), o que pode criar ansiedade, medo e bloqueios.

    Como conseguir então estar no presente? Treinando a presença. E cada um de nós tem as suas próprias formas de estar no presente, de enraizar e de ancorar. No meu caso, a música é uma delas. A escrita, as visitas curtas e diárias ao mar, os mantras ou orações que recito na minha cabeça várias vezes durante o dia e algumas meditações que faço durante a semana. Não precisas necessariamente de fazer práticas diárias de yoga, nem estares diariamente exposta a meditações. Nada contra, apenas quero partilhar contigo que não precisas necessariamente de dedicar horas à meditação para encontrares e trazeres serenidade para a tua vida.

  3. As pessoas serenas gozam de um contexto calmo, em que tudo corre dentro da normalidade".

    Este mito pode ser verbalizado com frases do género: "Pois, ele só tem 1 filho e não dá trabalho nenhum" ou "Com empregada a tempo inteiro, até eu seria uma pessoa serena!" ou "Eu tenho mesmo má sorte, tudo me acontece, ela não tem desafios como eu".

    Queres saber o que penso quando oiço isto? Não existem tais pessoas com contextos calmos, em que tudo corre dentro da normalidade. Se algo me ensinou e continua a ensinar o meu filho Lourenço, é que a vida é impermanente. Uma palavra que nunca antes tinha feito tanto sentido na minha vida: impermanência.

    A vida apresenta-nos (a todos) situações todos os dias. Algumas mais previsíveis do que outras. Por norma, incontroláveis mesmo. E são justamente essas as ocasiões para viver a serenidade. Para criar o espaço entre estímulo e resposta. Para estar no presente e, com curiosidade, mergulhar no local da aceitação. Portanto, se és uma mulher com um contexto familiar, profissional ou pessoal mais "mexido", és completamente apta para viver uma vida em serenidade!

Depois de teres lido isto, vais compreender melhor a intenção com a qual criei as Tertúlias Serenas, uma experiência única de aprendizagem e de pertença a uma comunidade, em contacto profundo com a empatia e a leveza.

Se sentes vontade de aprofundar e conhecer mais sobre ti e sobre a serenidade e se valorizas ter um espaço de realidade partilhada e crescimento em comunidade, obtém todas as informações desta comunidade serena aqui.


 
 
 

Abraço sereno,

Ana Higuera

 

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