Será que não tens sofrido nenhuma perda?

perda

“Felizmente não tenho sofrido nenhuma perda.” - Disse ela.

“Tens absoluta certeza disso?” - Respondi.


Questionar certezas é sempre complexo e, também, poderoso. A palavra perda assusta e por norma está associada à morte. Só que a perda e o luto acontecem de variadas formas ao longo da nossa vida. Acontece a todos, sem exceção. Tenho-me debruçado sobre a perda e o luto. A morte do meu filho Lourenço tornou-se num portal para acordar com a vida. Partilho contigo uma breve história:

Quando tinha 7 anos, os meus pais decidiram mudar de cidade, assim de repente. Tínhamos ido passar o Natal à cidade onde morava a minha avó (Medellín). Viajei com a ideia de passar uns dias e acabei por ficar lá 18 anos. Não tive possibilidade de despedir-me das amigas do colégio, nem das professoras. Estava no primeiro ano e esperava por mim uma mudança grande: novo colégio, novo espaço, novas amigas, rotinas, casa e hábitos. Nunca interpretei que isso pudesse ter sido uma perda até há pouco tempo atrás.

Tenho um filho com 7 anos. Apaixonado pela escola, pelos seus amigos, pela sua cidade e ambiente. Uma criança com uma necessidade forte de ligação e pertença, como eu.

Como seria para o meu filho, de repente, levá-lo a morar para outra cidade? Embora agora as tecnologias facilitem o contacto, acredito que seria um processo de perda para ele, e de adaptação para uma nova realidade.

A perda acontece, várias vezes, de múltiplas formas. É importante que a perda seja vista, reconhecida, ressignificada e reintegrada. Acolher com compaixão, abrir espaço e permitir abraçar a aceitação.

E tu, tens vivido alguma perda?


 
 
 

Abraço sereno,

Ana Higuera

 

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